Quando digo a uma criança:
“Brincar é a tua tarefa mais importante!”
Frequentemente olham para mim espantadas e incrédulas. Como assim? A escola não é mais importante? Estudar? Ter boas notas?
Esta resposta é desapontante. Estamos a falhar-lhes em alguma coisa. Nós, adultos, estamos a transmitir-lhes que as responsabilidades escolares (e os resultados obtidos na escola) são o mais importante. Tudo o resto pode esperar e ficar para outro dia.
Mas não pode. A brincadeira alicerça todo o funcionamento da criança. É o ato mais natural da infância, e quando a criança não tem oportunidade para brincar, tudo o resto fica comprometido: a adaptação aos desafios escolares, a qualidade do relacionamento com o outro, a aprendizagem e a regulação das emoções e do comportamento.
Vamos interiorizar um princípio importante:
“As crianças não são mini-adultos!”
Uma criança não é um adulto em ponto pequeno. Uma criança é um ser imaturo, em processo de crescimento e desenvolvimento. Como tal, a sua interação com o mundo, e a forma como gradualmente o conhece, compreende e integra, é diferenciada e adaptada às características das suas estruturas, em cada etapa de desenvolvimento. Ao brincar, usa a diversão e o lazer como estratégia para lidar com o turbilhão de informação, de mudança e de emoções do dia a dia. Ao brincar, é possível superar várias barreiras de forma mais tranquila e natural.
Brincar é a estratégia suprema da criança, que se torna ativa e participativa no seu próprio processo de desenvolvimento.
Uma criança que brinca “às casinhas” está a descobrir e a testar vários papéis sociais.
Uma criança que faz uma construção com cubos treina a motricidade, resistência à frustração e foco da atenção.
Uma criança que dispara a pistola de brincar contra os membros da família descarrega de forma inócua a agressividade que contém no dia a dia.
Podíamos encher uma enciclopédia com exemplos destes. E é por isso que brincar é uma necessidade imperativa da criança.
São necessários brinquedos caros, de marca pedagógica, desenvolvidos por especialistas?
Não! Descomplique-se o brincar.
Claro que o acesso a brinquedos estimulantes e variados é uma mais valia, porque proporciona uma maior variedade de experiências. Mas se nós, adultos, usarmos um pouco do nosso tempo e imaginação, descobrimos com as crianças que brincar sai barato.
O brincar mais produtivo para a criança é a brincadeira não estruturada: atividades livres, escolhidas pela criança, com regras e tempos definidos por esta. Aí, é a criança que manda – e como é bom mandar um bocadinho num mundo feito de regras de gente grande! Materiais simples, que apelam à criatividade, e que podem ser usados de diferentes formas (cubos, “legos”, bonecos/bonecas, papel e canetas, caixas, plasticinas, bolas…) são muitas vezes os brinquedos mais usados e estimados pelos miúdos.
E o mais importante: o nosso tempo. A nossa disponibilidade e coração por inteiro, nem que seja naquela meia hora antes do jantar. Preparados para sermos o bebé alimentado a biberão, o ladrão invariavelmente apanhado pelo polícia, ou o narrador daquela história que já foi lida mais de cinquenta vezes.
E naqueles momentos, partilhados e vividos alegremente enquanto a sopa está ao lume, “o mundo pula e avança” na cabeça das nossas crianças.
A propósito deste tema, irei brevemente falar sobre a utilização terapêutica do Brincar no âmbito da Psicologia: A Ludoterapia.
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